Agro? Sim. Mas qual deles? Um olhar longe de dogmas.
- Politiza MT
- 17 de jul.
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O agronegócio não é um bloco monolítico nem um aliado automático de qualquer campo político. Boa parte do setor opera com lógica empresarial e transnacional, sem compromisso com valores conservadores, soberania nacional ou estabilidade institucional. A ideia de que o “agro” representa a espinha dorsal patriótica do Brasil resiste mais como construção retórica do que como descrição fiel da realidade.
O centro de gravidade do agro brasileiro está nos grandes conglomerados exportadores de commodities. Empresas como JBS, Marfrig, Minerva e grupos como o AMaggi concentram a produção e o lobby em Brasília. São estruturas orientadas ao mercado externo, integradas a cadeias globais e interessadas em previsibilidade regulatória, não em disputas ideológicas. Boa parte dessas corporações manteve relações próximas com o PT, recebeu financiamentos do BNDES e atua com naturalidade em ambientes multilaterais. O alinhamento é com quem oferece vantagens econômicas, não com quem compartilha princípios.
Enquanto o discurso político insiste em exaltar o agro como um todo, os pequenos e médios produtores seguem distantes dos centros de decisão. O pequeno agricultor, responsável por cerca de 70% da comida consumida no país, segundo o IBGE, permanece à margem das políticas públicas. O médio, já integrado ao mercado exportador, sofre pressão direta de custos dolarizados, exigências ambientais externas e falta de proteção frente aos grandes.
A Frente Parlamentar da Agropecuária raramente atua em defesa desses segmentos. Suas prioridades orbitam os interesses dos grandes exportadores, que operam com capacidade de lobby estruturada, agenda internacional e acesso privilegiado aos ministérios e agências. Nesse cenário, políticas voltadas à agricultura familiar ou ao abastecimento interno tornam-se secundárias.
Além disso, o foco na exportação acarreta efeitos internos concretos. A chamada “priorização do mercado externo” contribui para a alta de preços dos alimentos. Durante a pandemia, o aumento das exportações de carne para a China foi um dos fatores que pressionaram os preços no Brasil. Situações semelhantes ocorrem com soja, milho e outros produtos voltados à ração animal no exterior.
O setor é complexo e heterogêneo. Reduzi-lo a slogans esvazia o debate. As grandes tradings que dominam a logística e a exportação agrícola brasileira — muitas delas multinacionais com diretrizes próprias — moldam um modelo distante do interesse nacional. Tratar o agrobusiness como expressão automática do conservadorismo é ignorar sua adesão pragmática a qualquer governo que assegure retorno financeiro.
A política agrícola brasileira continua estruturada para proteger os mais fortes. Não há conflitos com as áreas da JBS ou da Marfrig. Não há enfrentamento à agenda de carbono ou à certificação imposta por organismos internacionais. A segurança alimentar interna e o protagonismo produtivo do pequeno agricultor seguem como notas de rodapé.
Diante disso, uma verdade desconfortável se impõe: o agronegócio corporativo, multinacional e financeiro pouco se importa com valores conservadores ou patriotismo. Seu único compromisso é com o lucro — e esse lucro pouco depende de ideologia.
Fonte: Kim D. Paim @kimpaim
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