Como Israel localizou e matou o chefe do Hezbollah no Líbano; veja o que se sabe
- Politiza MT
- 30 de set. de 2024
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O Hezbollah confirmou em um comunicado no sábado (28) que Nasrallah foi morto no ataque —um grande golpe para o grupo que ele liderou por 32 anos
A eliminação do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na sexta-feira, em um bombardeio aéreo, foi uma façanha da espionagem israelense que coroou vários dias de operações e evidenciou até onde infiltraram o movimento libanês pró-iraniano, segundo especialistas.
Isso é o que se sabe sobre como Israel mobilizou seus recursos de inteligência para realizar o ataque.
A Preparação
O Hezbollah começou a disparar foguetes contra o norte de Israel um dia após o ataque de seu aliado Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a atual guerra na Faixa de Gaza.
A violência transfronteiriça entre Israel e o movimento islamista libanês escalou fortemente em 17 de setembro, com os ataques de sabotagem contra os beepers usados pelo Hezbollah, seguidos um dia depois por explosões nos walkie-talkies do grupo.
As explosões, que Israel não reivindicou, mataram pelo menos 39 pessoas, feriram quase 3.000 e "levaram as comunicações do Hezbollah de volta à Idade da Pedra", escreveu Robert Satloff, do Instituto de Washington para Política do Oriente Médio.
Alguns analistas consideram que a operação reflete os grandes avanços da unidade militar 8200, o grupo de inteligência de sinais de Israel, na penetração dos dispositivos de comunicação do Hezbollah.
O próprio Nasrallah alertou em fevereiro: "O telefone celular que você tem na mão é um dispositivo de espionagem". Isso motivou o uso dos beepers, que depois se tornaram armas.
No entanto, o porta-voz militar israelense Nadav Shoshani declarou na sexta-feira a jornalistas que a coleta de inteligência que possibilitou o assassinato de Nasrallah data de vários anos.
"Utilizamos inteligência que havíamos coletado durante anos, tínhamos informações em tempo real e realizamos este ataque", disse ele.
A coronel aposentada Miri Eisen, do Instituto Internacional para o Combate ao Terrorismo da Universidade Reichman, em Israel, também destacou que o ataque foi o resultado de um trabalho extenso.
"As capacidades israelenses em relação ao Hezbollah mostram a profundidade da infiltração de sua inteligência nas linhas do Hezbollah", observou ela.
Eisen afirmou que "não são coisas que eles inventaram nos últimos 11 meses", quando o Hezbollah começou a atacar o norte de Israel.
O Ataque
Funcionários israelenses revelaram que Nasrallah e outros líderes do Hezbollah se reuniram na sexta-feira no "quartel-general" do grupo, em seu principal reduto, localizado nos subúrbios do sul de Beirute. A área vinha sendo bombardeada por Israel à medida que intensificava sua campanha contra o Hezbollah.
Pouco antes das 18H30 (15H30 GMT), ouviram-se fortes explosões na capital libanesa. O jornal Wall Street Journal relatou que Israel planejou durante meses o uso de "uma série de explosões programadas" no bunker subterrâneo onde Nasrallah estaria, e "cada explosão dava lugar à seguinte".
Mas o jornal também citou autoridades israelenses dizendo que a programação do ataque "foi oportunista, ocorrendo depois que a inteligência israelense soube da reunião horas antes de sua realização".
Coincidiu com a Assembleia Geral da ONU, na qual o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, estava fora de Israel. Seu gabinete publicou posteriormente uma foto do momento em que aprovou o ataque.
Israel não detalhou o tipo de armas utilizadas. No entanto, o New York Times publicou que, segundo uma análise de um vídeo militar, o avião utilizado estava "carregado com pelo menos 15 bombas de 2.000 libras". Altos funcionários disseram ao jornal que "mais de 80 bombas foram lançadas em questão de minutos para matar" Nasrallah.
A Consequência
Os bombardeios deixaram crateras de até cinco metros, segundo fotógrafos da AFP. O especialista em Oriente Médio James Dorsey considerou que o ataque representa um golpe de inteligência "muito sofisticado". "Não só demonstra uma importante capacidade tecnológica, como também o quão profundamente Israel penetrou no Hezbollah", explicou.
Heiko Wimmen, do International Crisis Group (ICG), comentou que os efeitos a longo prazo sobre as operações do Hezbollah ainda são incertos. "Embora o Hezbollah esteja muito bem institucionalizado para colapsar ao ser decapitado, a perda chocante de seus recursos humanos terá inevitavelmente um efeito degradante mais cedo ou mais tarde", indicou Wimmen, diretor do ICG para o Iraque, Síria e Líbano.
Segundo ele, isso pode enfraquecer a capacidade do grupo de continuar sua campanha de lançamento de foguetes contra Israel. As autoridades israelenses, por enquanto, comemoram a morte de Nasrallah enquanto decidem se lançarão uma incursão terrestre contra o Hezbollah.
O exército distribuiu no sábado uma transcrição que cita o comandante do esquadrão que bombardeou Nasrallah dizendo que "alcançaremos todos, em qualquer lugar".
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