"Deixamos de ser colônia em 7 de setembro de 1822" ?
- Politiza MT
- 28 de fev.
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(1) Um dos traços da degradação cultural brasileira é a relação cada vez mais frouxa entre poder e conhecimento. Às vezes nos iludimos achando que se sobe na hierarquia pelo mérito, pelo estudo, pela experiência.
(2) Na verdade, chega-se por arranjos políticos, conexões certas e, acima de tudo, a habilidade de parecer sábio sem sê-lo. A consequência? Personagens investidos de autoridade, espalham bobagens cheios de pompa, certos de que ninguém ousará lhes corrigir.
(3) O Brasil deixou de ser colônia em 1815, sete anos antes do que a fala do ministro sugere. Em 16 de dezembro de 1815, D. João, ainda príncipe regente, fez do Brasil um Reino Unido a Portugal e Algarves. Nascia, ali, a monarquia brasileira.
(4) D. João só se tornaria rei em 1816, com a morte da mãe, D. Maria I, mas já governava desde que desembarcou no Rio de Janeiro, driblando Napoleão. Em 1820, revolucionários do Porto tentaram revogar essa paridade política e rebaixar o Brasil — a porção mais próspera do Império,
(5) maior em economia, população e território.
Os revolucionários exigiram que D. João voltasse e que o Brasil retornasse ao status colonial. O rei aceitou a primeira parte e, segundo um anedotário sustentado por cartas, instruiu D. Pedro, deixado como regente, a
(6) recusar a segunda. Em 1822, proclamou a independência não para romper com Portugal — o que foi um acidente de percurso, não o objetivo maior — mas para preservar o status de reino já conquistado.
(7) Dizer que o Brasil deixou de ser colônia em 1822 pode parecer coisa pouca, mas é grave. Se um estudante errasse, paciência. Mas um ministro do STF, avaliado como "nota 10 em erudição" por uma banca da USP, defendendo a soberania de seu país sem saber qdo ela passou a existir?
(8) O erro, nesse caso, não é um lapso. É um sintoma. Sintoma da mediocridade política, jurídica, acadêmica. De que prestígio substitui conhecimento e a retórica vale mais que a verdade.
9) A história ñ é detalhe dispensável. Quem a ignora está, no mínimo, tomado pela amnésia — e sem memória, dissolve-se a identidade, tanto do indivíduo quanto da nação. No máximo, torna-se um agente ativo da mentira, empurrando um país inteiro para a confusão e o esquecimento.//
Fonte: Rafael Nogueira
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