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Lula teme que revisão de gastos afete popularidade no Norte e Nordeste, dizem auxiliares

Mudanças nas regras para concessão de benefícios assistenciais, trabalhistas e previdenciários podem retirar votos do presidente da República nas regiões em que ele mantém maior apoio e afetar os planos de reeleição, dizem técnicos do governo


Apesar da sinalização do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo trabalha em uma agenda de revisão de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está convencido sobre a necessidade das medidas, afirmaram à EXAME técnicos da equipe econômica e da ala política.


O cálculo de Lula é eminentemente político e considera, sobretudo, os impactos que uma mudança nas regras para concessão benefícios sociais, previdenciários e trabalhistas pode ter na popularidade e nos votos do chefe do Executivo no Norte e no Nordeste.


As duas regiões concentram parte significativa do eleitorado do petista e essas populações estão entre as maiores beneficiárias dos programas sociais e de amparo ao trabalhador.


As medidas estudadas pelo Ministério da Fazenda têm com foco ajustes no abono salarial, no seguro-desemprego e no Benefício de Prestação Continuada (BPC). O cardápio de propostas da equipe econômica também considera o fim da indexação das regras de correção real do salário mínimo dos benefícios previdenciários e trabalhistas, além de mudanças das desvinculações de mínimos constitucionais para saúde e educação. Todas essas despesas têm pressionado o orçamento público.


"Para um político de esquerda reduzir despesa social é suicídio [político]", diz um membro da ala política. "Minha avaliação é que será difícil para a Fazenda ganhar [a discussão sobre revisão de gastos]."


Resistências políticas à revisão de gastos

Segundo auxiliares de Lula, mudar as normas para concessão de benefícios ou revisar as regras para o reajuste desses auxílios terá um impacto direto nos planos de reeleição do presidente da República.


O pacote de revisão de gastos também tende a receber resistência dos parlamentares petistas e de esquerda. Esse grupo, que tem as opiniões expressadas pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tende a criticar as mudanças pretendidas por Haddad.


E mesmo parlamentares de outros partidos que têm suas bases políticas no Norte e no Nordeste tendem a votar medidas nesse sentido, afirmaram técnicos da ala política do governo.


Na ala política e mesmo em parte da equipe econômica o diagnóstico é de que o governo precisa manter o foco em reduzir os benefícios fiscais concedidos às empresas, tributar lucros e dividendos e, por fim, a desoneração da folha. Com isso, seria possível minimizar  os impactos dos gastos sociais.


Plano B para eleições de 2026


Alguns auxiliares de Lula também interpretaram as afirmações de Haddad sobre a necessidade de executar uma agenda de revisão de gastos como uma sinalização para o mercado de que ele tem uma opinião diferente da maioria dos petistas. Com isso, ele poderia se cacifar para disputar a Presidência da República em 2026, caso o atual presidente desista do pleito.


A possibilidade de Lula não disputar as eleições em 2026, entretanto, ainda é descartada pelos auxiliares do presidente. O petista tem mostrado irritação com os resultados do governo. Por ter escolhido ex-governadores para tocar ministérios estratégicos, a avaliação inicial era de que a experiência nos estados facilitaria a gestão das políticas públicas.


O resultado das eleições municipais, com vitória significativa de partidos de centro e de direita, também tem preocupado os petistas. O aumento de prefeituras governadas pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e partidos do Centrão, tende a dificultar a reeleição de Lula e a contribuir para que essas agremiações consigam eleger mais deputados e senadores, o que traria mais dificuldades para Lula governar em um eventual segundo mandato.


Para piorar, a decisão do presidente de não participar ativamente das campanhas criou um mal-estar generalizado entre candidatos, presidentes de partidos aliados — e até entre os petistas, como mostrou a EXAME.



 
 
 

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